Texto escrito em parceria com o jornalista Caio Ferracina
O esporte sempre traz lições valiosas que podem ser levadas para o contexto empresarial. Na última semana, com a realização do Australian Open, um dos quatro maiores torneios do calendário profissional do tênis, os chamados Grand Slams, tivemos um exemplo de superação.
Eis que surge o personagem central deste artigo: o russo Aslan Karatsev. Tal qual um conto de fadas, uma jornada inspiradora, que por certo cativou o público, Karatsev surgiu no torneio como um ilustre desconhecido. Ranqueado na posição 114 do ranking da ATP, o russo despachou nomes como Diego Schwartzman (nº 9 do ranking) e Grigor Dimitrov (17º do mundo, nas quartas de final) para chegar a uma inédita semifinal. O mais incrível: Karatsev disputou o qualifying (jogado na semana anterior), o que deixa o feito ainda mais notável. Nas semifinais, um verdadeiro duelo entre Davi e Golias, na qual o número 1 do mundo, Novak Djokovic, ratificou seu favoritismo para, posteriormente, confirmar seu nono título no solo de Melbourne.
Para se ter uma ideia do abismo que separou os dois semifinalistas, Karatsev embolsou US$ 618,3 mil (até o Australian Open deste ano) desde o começo da carreira em jogos de simples e duplas. O valor, equivalente a R$ 3,3 milhões na cotação atual, é cerca de 235 vezes menor do que Djokovic já embolsou na carreira. Sim, 235 vezes! Somente nesta edição do Australian Open, o russo já recebeu mais de US$ 850 mil, quantia superior a seu total prévio.
O sérvio, por sua vez, já tem cerca de US$ 146 milhões (mais de R$ 782 milhões) em premiações, número quase irreal para o russo – em um abismo de exatos R$ 779,6 milhões entre eles.
E que lições da trajetória do russo podem ser trazidas para o âmbito profissional? A primeira delas é a persistência. Tanto o mercado de trabalho, quanto o esporte profissional são ambientes altamente competitivos e que demandam grande preparo.
No ranking do circuito profissional de tênis são cerca de mil jogadores, número que pode ser semelhante aos candidatos para aquela vaga dos seus sonhos. A competição será uma tônica da vida das pessoas independente da fase, seja ela pessoal ou profissional. Tal qual um verdadeiro duelo de tênis, o profissional deve estudar muito e se preparar para não ficar estagnado e ser preterido pelas empresas.
Dentro desse cenário de ser preterido pelas empresas, nem sempre o melhor vence. E mais, às vezes, o mais talentoso não está em um bom dia e tudo pode acontecer, seja em deixar uma boa impressão no mercado de trabalho, ou em jogar duas ou três horas de uma partida de tênis debaixo do sol do verão australiano. Persista, sendo mais ou menos talentoso, sendo mais ou menos preparado, sendo mais ou menos vencedor.
Quando se compete, conviver com as vitórias e derrotas, como algo que faz parte do jogo, é o segredo para outra lição: não desistir. Karatsev apareceu apenas aos 27 anos, portanto não se trata de nenhum prodígio. Nem precisamos recorrer ao Google para saber que o retrospecto na carreira do russo é de mais derrotas do que vitórias, caso contrário, saberíamos da existência dele no circuito há anos atrás.
Pra finalizar, falamos de algumas semelhanças entre a competência e a sorte no trabalho e nas quadras. Mas aqui fica uma reflexão que pode diferenciar você, e tantos outros, no mercado de trabalho: esses meteóricos atletas não são tão incomuns no tênis, da mesma forma que aparecem, desaparecem em semanas (pode não ser o caso de Karatsev, mas como diria Padre Quevedo, “mas que existem, existem”).
Mas se você sentiu-se ou sente-se um Karatsev do mercado, pense: como eu me mantenho no ranking, como eu sigo ganhando meu espaço, qual será meu próximo grande adversário e, principalmente, amanhã vou praticar e me preparar com a mesma disposição e vontade de vencer que eu tinha quando eu não jogava Grand Slams ou frequentava as quadras principais da minha carreira. Game! Set! Match! E sucesso…