A superexposição dos atletas nas mídias sociais: oportunidade ou ameaça?

O avanço tecnológico permitiu a migração de um modelo de comunicação para outro muito mais veloz e interativo, hoje em dia a velocidade com que a informação chega a uma grande audiência é assustadora. Um simples post numa rede social pode colocar muita coisa a perder. No final de 2017, o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton apagou todos seus mais de 3 mil posts no Instagram após publicar um vídeo polêmico e ser duramente criticado por seus fãs. Atualmente, o piloto se limita a postar campanhas que faz com seus patrocinadores e conteúdo sobre sua carreira como piloto. A superexposição dos atletas nas mídias sociais é uma oportunidade ou uma ameaça?

A bola da vez é Neymar((entenda o caso). O jogador brasileiro é um dos esportistas mais seguidosnas mídias sociais no mundo, acumulando milhões de fãs nas principais plataformas, costuma ser bastante ativo e de certa forma polêmico em declarações e em algumas postagens. Porém, a crise de imagem do jogador ocorreu devido ao seu comportamento em campo. Em cada jogo, valorizava cada falta do adversário encenando de forma exagerada que pudesse ter sofrido algum tipo de contusão. Esse comportamento rendeu uma série de memes e comentários de repúdio ao seu estilo. Tal cenário fez com que o estafe do jogador tomasse medidas para blindá-lo e evitar um desgaste ainda maior, a Pluri avaliou que o valor de mercado de Neymar, jogador mais caro da história, caiu 11% após a Copa. Fato este que fez seu clube, o francês PSG, cogitar negociar sua principal estrela, hipótese que outrora não era considerada.

“O problema do Neymar é algo recorrente desde os tempos em que jogava no Santos: amadurecimento. Essa fama de cai-cai e de ser esquentado não é de hoje. Ele melhorou muito desde a última Copa. Porém, ainda carece de orientação. Ele se expõe muito nas mídias sociais e, gera motivo para ser criticado” afirma a Prof. Dra. Soraia Lima, especialista em comunicação digital.

Neymar é mais um caso de atleta que utiliza as redes sociais não só para angariar fãs e curtidas, mas também como ferramenta de negócios para incrementar seus ganhos. Cada postagem que faz alusão a alguma marca tem um valor que pode chegar na casa dos R$ 100.000,00 reais dependendo da ação. Para se ter uma ideia, Cristiano Ronaldo, o esportista mais bem pago (e seguido) nas ações digitais chega a acumular U$S 400.000,00 por uma postagem em seu Instagram. Antes algo feito até mesmo pelo próprio atleta, hoje o trabalho de gestão de mídias digitais se profissionalizou “A profissionalização da comunicação levou celebridades e atletas a buscarem profissionais que os auxiliassem a cuidar da sua imagem. Assim, muitos deles possuem assessores de imprensa e RPs para cuidarem de seu posicionamento, inclusive nas mídias sociais” relata Soraia Lima.

A utilização das mídias sociais é feita por atletas de diversas modalidades, como é o caso do jogador de futsal do Magnus e da seleção brasileira Rodrigo Hardy, que procura manter ativo seu Instagram “É muito difícil ser atleta no Brasil por isso é muito importante manter uma boa imagem, dando exemplo para as crianças e para seus patrocinadores. As redes sociais hoje são uma espécie de currículo, mostrando nossos gols e nossa atuação para pessoas do mundo todo. Não basta ser apenas um esportista de alto rendimento, devemos dar o exemplo também fora das quadras” conta o jogador.

E como é feito o trabalho de gerenciamento das mídias sociais dos atletas? Empresas de comunicação oferecem soluções que vão desde o gerenciamento das redes até ações voltadas para consolidação da imagem do atleta, para torna-lo comercialmente atrativo para as marcas, além de estabelecer um canal de contato com o público que acompanha seu trabalho.

O jornalista Sérgio Luci é sócio de uma assessoria de imprensa que atende diversos jogadores de futebol e conta um pouco de como é sua rotina de trabalho em situações adversa. “É um trabalho constante, diário e com muitos detalhes. Geralmente, pra você conseguir mudar, construir ou reconstruir a imagem de uma figura pública, independente do setor onde atua, precisa de um certo tempo. Para denegrir essa imagem, porém, é questão de horas” Logo, estar alinhado com o atleta é fundamental para que o trabalho feito obtenha resultados satisfatórios e chegue num patamar que seja uma plataforma também de negócios.
Como relatado, as crises podem ocorrer a qualquer instante,u m post mal interpretado pode criar uma dor de cabeça sem fim para o atleta e remediar cada situação requer muita atenção e rapidez. Mas será que existe alguma receita para lidar com uma situação adversa? “Não há nenhuma receita. Não é como preparar um bolo. Tudo depende do momento. Para determinadas situações, usa-se determinadas estratégias. O que determina o caminho a seguir é o momento e como a situação foi criada” responde Sérgio Luci.

No caso de Neymar seu estafe buscou a reclusão do atleta e reduzir sua superexposição nas mídias sociais, apostando na velha máxima que o público tem memória curta.

“O posicionamento dele de pedir desculpa e resguardar a imagem foi acertada. Foi tardia, mas acertada. E, sinceramente, essa crise que ele vive hoje é mais uma turbulência, do que uma crise em si. Já tivemos atletas que morderam, fingiram serem roubados, deram cabeçada, cotovelada e conseguiram reverter essa imagem negativa. O que ele fará daqui para frente é que vai ser o diferencial. Aceitar os erros e trabalhar. Isso melhorará sua imagem” afirma Soraia Lima.

A lição que fica é que não há receitas quando o assunto é a presença digital, tanto o estafe como o atleta deverão estar alinhados e atentos para quando surgir qualquer tipo de crise, ela seja contornada de forma efetiva e que não prejudique a imagem e reputação do atleta.

Sobre o Autor
Formado em Relações Públicas pela Faculdade Cásper Líbero e Especialista em Assessoria de Comunicação e Mídias Sociais pela Universidade Anhembi Morumbi, profissional com mais de 10 anos de experiência em comunicação organizacional. Desenvolvimento de atividades como: relacionamento com o público interno, coordenação e estratégias de criação e comercialização de campanhas em mídias sociais, trade marketing e comunicação externa. Know how em gestão de canais, organização de eventos, cerimonial e protocolo, relacionamento com stakeholders, além de coordenação da edição de publicações técnicas. Responsável pela carreira e imagem de atletas de performance e profissionais, além do gerenciamento da comunicação organizacional e marketing de empresas dos ramos de esportes, qualidade de vida, cultura, ensino e entretenimento, atendendo contas como CNA Idiomas e Sutton São Paulo. Atuou como docente convidado do módulo Relações Públicas, Assessoria e Comunicação Interna no curso de pós graduação de Gestão da Comunicação Integrada do Senac. Também ministra palestras sobre temas variados de comunicação.
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