O tênis universitário nos EUA, um sonho de muitos

A preparação

Quando eu tinha 10 anos e entrei na quadra pela primeira vez, dizia que iria estudar nos estados Unidos. Um sonho? Sim.
Comecei a jogar no Clube Ipê com 8 anos, mas naquela época passava a maior parte do tempo no paredão e só entrava na quadra meia hora por semana para ter aula com o Mestre Pino ou com o Mestre Sr Gabriel no Clube da Prefeitura em frente a AACD em São Paulo, também.

Como eu, muitos jogadores “sonharam” e realizaram o sonho: estudaram nos EUA. Nomes famosos como Carlos Kirmayr, João Soares, Roger Guedes, Dácio Campos, Nelson Aertz, Mauro Menezes e muitos outros ótimos jogadores do tênis profissional que se formaram ou estudaram lá com algum tipo de bolsa de estudos para atletas.

Recentemente, podemos citar os tenistas Henrique Cunha, que alcançou a posição 240 no ranking da ATP e Bruno Rosa. A revelação juvenil Gabriel Dechamps, é um exemplo atual de atleta que têm 100% de bolsa na Florida state University.

Os requisitos para ir para ir jogar nos EUA

Hoje em dia não é a mesma coisa. Primeiro que é fácil em muitos aspectos. Tem muitas empresas que levam esportistas para os EUA como GoUSA 2SV, e mais tradicionais no tênis como a SAB, Daquiprafora e outras. Também tem muita gente preparando atletas para os EUA, o próprio Kirmayr na sua academia faz isso e outros lugares espalhados pelo Brasil.

Houve porém uma mudança na divisão das bolsas nos EUA. Por causa da igualdade de bolsas de esportes, nas Universidades, é mais fácil uma menina conseguir uma bolsa pois são 6 disponíveis, que um garoto que são só 4 bolsas.

Hoje também é muito mais restrita a parte acadêmica: se você não for bom estudante é difícil você se manter lá com bolsa de atleta. Me lembro que na minha época, eu fui o primeiro jogador em 6 anos a se formar na Universidade de Utah (top 20 de tênis) pois a galera jogava e não se interessava pelos estudos. Atualmente, isso não é mais possível, além de jogar você deve se dedicar muito aos estudos.


Então é difícil ir estudar lá?

Sim e não. É preciso ter disciplina para estudar e jogar. Quando joguei em Utah , meu técnico foi enfático logo no primeiro contato comigo “ Se eu souber ou te pegar esquiando nas montalhas, você perde a bolsa”. Sabem quantas vezes fui lá? Só depois de formado.
Também é preciso ter boas notas aqui no Brasil e querer muito. A maioria dos brasileiros vão para la, como plano B se eles não conseguiram jogar profissional e isso no meu modo de ver é uma estratégia arriscada.

Você pode sim aproveitar, treinar lá e depois jogar profissional. Eu fiz isso, por que não você também?

Então você quer estudar nos EUA então tome nota de algumas dicas

1) Escrever o objetivo. Quero estudar lá para tentar profissional quando terminar. Ótimo. Quero estudar lá para fazer engenharia, medicina, advocacia ou algo similar, não rola a não ser que você seja um gênio. Em Utah, o cara que jogava de número 8, jogava Copa Davis pela Noruega e estudava engenharia. Desistiu do time pois não dava para estudar e treinar. Mas como toda regra tem uma exceção, Mateus Moreira, se formou na North Dakota com bolsa de tênis fez engenharia civil;

2) Comece a estudar inglês e preparar-se para as provas de admissão. Na minha época SAT e Toefl, hoje mudou um pouco:Tem o IELTS se o inglês não é sua lingua oficial e outros requisitos particulares de cada Universidade que você pode pesquisar no site de cada instituição;

3) Escolha uma parceria com uma empresa, treinamento ou ambos. Aproveite, na minha época era só na raça. Fui como intercâmbio cultural para uma cidade de 4 mil habitantes e consegui “escapar” e jogar High School na Califórnia como trampolim para o Junior College e depois Universitário em Utah. Hoje é tudo bem mais fácil.

4) Aprenda a ter disciplina e a se virar. Se não você irá sofrer e muito;

5) Converse com alguém que já foi e quando decidir que faculdade estude o coach e a equipe. Contate os jogadores, e pense em tudo. Nivel de tênis, nível de estudo, clima: Você encara?

O treinamento nos EUA

Esquece tudo que você treinava aqui. É diferente lá. Você tem menos tempo para treinar, mas você é cobrado para ganhar. Resultado é importante e muito se você quiser manter a bolsa de estudo com o tênis. Se voce for sem bolsa, a chance de você jogar é pequena, pois o treinador dá prioridade aos bolsistas que ele recrutou.

Vou enfatizar, o coach é muito importante: a grande maioria dos coaches nos EUA, infelizmente só estão preocupados com o trabalho deles, você é so um jogador que tem que ganhar. Ganhou, você é legal. Perdeu, deu trabalho na escola, você é descartável. Pesquise bem o coach e veja se você irá se enquadrar. Meu técnico em Utah, estava em cadeira de rodas, não viajava de avião, e tomava muitos remédios para cabeça. Imagina como foi……difícil mas eu sobrevivi
Enfim, você treina de 2 a 4 horas diárias, faz musculação/físico e ainda tem que manter notas boas. Não tem muito tempo para festa. O nível do treino, dependo do coach e o assistant coach. Pesquise;

O OUTRO LADO: A volta a Universidade americana como assistant coach

Depois de trabalhar 20 anos em multinacional americana, voltei ao grande amor: o tênis e fui assistant coach de um amigo de infância nos EUA. Me deu carta verde e consegui ranquear as meninas da equipe no top 50, fato inédito na época. Como? Motivando elas. Mas, meu amigo não gostou e tive que mudar de faculdade pois a política dele exigia muito mais disciplina e menos humanidade.
Então, faça a lição de casa, para não se iludir ou ter que jogar doente, obrigado, coisa normal com alguns coaches das ligas por lá.

Por que poucos jogadores viram profissionais depois da Universidade nos EUA?

Galera, primeiro porque é muito difícil. Eu joguei quase dois anos e o meu melhor ranking foi 655 em simples e 520 em dupla.
Depois, muito atletas que vão estudar lá, já estão desiludidos com o tênis e chegam lá e são obrigados a jogar. Combinação fatal!
Mas os que vão com o amor que eu tinha e tenho pelo tênis, voltam melhor, mas isso é a exceção. Muitos voltam queimados ou “burned out”. Estudar, treinar, ser jovem é bem complicado, por isso, muitos jogadores vão e voltam depois de 6 meses ou 1 ano.

Devo ir ou não jogar nos EUA?

Se você quiser jogar tênis de brincadeira, fique no Brasil, aqui tem tênis. Eu sou coach da Unisa e já fui coach da FGV, também. Têm muitas opções e São Paulo está desenvolvendo um tênis Universitário muito bom. Aqui é bem mais light. Fora as faculdades de Medicina, as outras não levam muito a sério. Nos três anos e meio de FGV foram 17 finais 12 títulos. Muito positivo.
Se você quer estudar e usar o tênis para ter bolsa, funciona. Mas se você não aquenta mais tênis e está machucado, não vai rolar não. Muito difícil a não ser que você jogue muito sem treinar mesmo e escolha o coach certo.

Dá para ir só um ano?

Sim, muitos atletas fazem isso. Se você abrir o jogo e puder ajudar o time, acho melhor do que fazer escondido. Mas o trabalho é para ir e nem todos os coaches gostam desse tipo de approach. Você tem que jogar muito tênis para fazer isso.

Conselhos do John Isner

O jogador profissional americano mais famoso na atualidade John Isner não se arrepende de ter jogado os quatro anos na Universidade da Geórgia. John diz “faria outra vez a Universidade, você terminar a Universidade com 22 ou 23 hoje a maioria dos top 100 tem 27 anos”

Conclusão

Se você é doente por tênis, quer ter mais tempo para amadurecer, e treinar vá o mais rápido possivel!

Boa sorte galera, se puder ajudar contem comigo!

Sobre o Autor
Formado em Relações Públicas pela Faculdade Cásper Líbero e Especialista em Assessoria de Comunicação e Mídias Sociais pela Universidade Anhembi Morumbi, profissional com mais de 10 anos de experiência em comunicação organizacional. Desenvolvimento de atividades como: relacionamento com o público interno, coordenação e estratégias de criação e comercialização de campanhas em mídias sociais, trade marketing e comunicação externa. Know how em gestão de canais, organização de eventos, cerimonial e protocolo, relacionamento com stakeholders, além de coordenação da edição de publicações técnicas. Responsável pela carreira e imagem de atletas de performance e profissionais, além do gerenciamento da comunicação organizacional e marketing de empresas dos ramos de esportes, qualidade de vida, cultura, ensino e entretenimento, atendendo contas como CNA Idiomas e Sutton São Paulo. Atuou como docente convidado do módulo Relações Públicas, Assessoria e Comunicação Interna no curso de pós graduação de Gestão da Comunicação Integrada do Senac. Também ministra palestras sobre temas variados de comunicação.
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