O fim das curtidas e a necessidade de aceitação na sociedade
Desde muito cedo somos condicionados a viver em uma sociedade marcada por testes e convenções, que nos coloca espécie de jogo marcado por desafios. Como se a versão real de “The Sims” fosse transportada das telas nos quais somos avatares que devem cumprir determinadas metas.
A aclamada série Black Mirror retrata muito bem isso no episódio “Queda Livre”, no qual uma mulher desesperada para ser notada nas mídias sociais acha que tirou a sorte grande ao ser convidada para um luxuoso casamento. O detalhe é que as pessoas nesse universo são classificadas por notas que vão de 0 a 5 que são mostradas em displays como se fizessem parte do indivíduo.
A ascenção das mídias sociais maximizou a necessidade de expor uma vida que por vezes pode soar artificial e o “viver” foi substituído categoricamente pelo “postar” e os likes viraram verdadeiros selos de aprovação de uma sociedade do espetáculo, profetizada por Guy Debord há mais de 40 anos.
Medimos pessoas e interesses pelo número de seguidores e curtidas em detrimento de algo que realmente possa nos tocar e fazer a diferença. Por vezes, fui indagado por clientes em intermináveis papos nos quais o número de curtidas era um fator preponderante no fechamento ou não de algo contrato ou campanha.
Para se ter uma ideia, hoje em dia, negócios como casas noturnas e bares, optam por incluir em sua estrutura os chamados “espaços Instagramáveis”, que nada mais são do que locais cool nos quais as pessoas possam se deleitar tirando inúmeras fotos para alçá-los a um lugar de destaque no meio de uma concorrência feroz. Quem nunca se deparou com aquela parede super colorida ou com uma decoração moderna e não teve aguçada a sede de tirar uma selfie sequer?
Essa quebra de paradigmas apresenta um novo cenário empresarial, no qual a imagem ganha um número incontável de novos interlocutores e as mídias sociais são canais disseminadores desse nova “verdade”. Avaliar um local pode ser um novo processo que passa pela beleza e harmonia do seu feed de fotos, por exemplo.
Percebendo que o número de curtidas sobrepujava o conteúdo em si, o Instagram decidiu oculta-lo e apenas o usuário autor do post tem acesso ao número real desses likes. Essa medida ao meu ver reitera ainda mais a catequização de que as empresas devam se preocupar, ainda mais, em compartilhar conteúdos legítimos e esquecer o pensamento quantitativo para validar suas ações. Afinal, curtidas são indicadores tão superficiais que podem ser adquiridos em sites de compra e venda na internet.
O olhar do usuário deve ser o mesmo das empresas, com foco na autenticidade do conteúdo compartilhado. Essa medida tem como objetivo deixar a plataforma menos tóxica e evitar novos casos de doenças relacionadas a saúde mental. Como o bullying moderno ocorre agora em meios digitais, nada mais justificável.
Conheço inúmeras pessoas bem sucedidas que mal fazem o uso das mídias sociais, talvez como forma de se blindar dos possíveis efeitos negativos que essa exposição pode causar. Para se ter uma ideia, o jogador de basquete LeBron James não utiliza nenhuma rede quando está em época de playoffs. Um simples comentário negativo pode colocar tudo a perder.
A chave para a fadada aceitação é não precisar provar nada para ninguém, numa releitura do mestre Renato Russo. As mídias sociais são apenas uma parte de nossa vida e não devem ser tratadas como algo primordial.
A aceitação começa em nós mesmo e deixar de lado ritos tóxicos é um bom começo para se alcançar objetivos fora do universo virtual.